Água Futuro Azul — Maude Barlow

No livro  Água Futuro Azul  Como proteger a água potável para o futuro das pessoas e do planeta para sempre, a autora Maude Barlow discute aspectos fundamentais deste bem tão vital para o equilíbrio e sobrevivência dos seres vivos em nosso planeta.  Barlow nos mostra como a água, que é um direito universal,  foi sequestrada pelo capital particular, pelo descaso das autoridades e pelo mal uso por parte de certos setores da população.

a crise global da água só será solucionada se a sociedade desenvolver uma cultura para gerenciar e zelá-la como um bem comum fundamental da vida, o qual deve ser entendido como um direito a ser partilhado entre todos,  um direito, sem discriminações ou exclusõesNós esquecemos que o ciclo da água e o ciclo da vida são um — Jacques Cousteau.

O leitor, logo na  introdução do livro, vai tomar conhecimento de como a ONU reconheceu o direito humano à água potável segura e limpa e ao saneamento como algo fundamental à vida. Contudo, o que parecia ser óbvio, ou seja, a aprovação de tal direito por todos, houve resistência por parte de alguns países na votação, já que a resolução implicaria em certas perdas financeiras para alguns grupos.

Com o reconhecimento de um direito humano pela ONU, três obrigações são impostas às nações: respeitar,  proteger e executar.

"Reconhecer um direito é simplesmente o primeiro passo para torná-lo uma realidade para os milhões que estão vivendo à sombra da maior crise do nosso tempo."


Maude é muito clara em sua posição de que a água é um bem público e deve ser gerido pelo estado, não por particulares. Segundo a autora, a privatização das empresas de água não tem apresentado benefícios ou melhores serviços e, muitas vezes, as empresas acabam recorrendo ao próprio estado para socorrê-las nos momentos de crise.

A autora dá o exemplo do Chile. Apesar da privatização dos sistemas de tratamento e distribuição, dos altos preços pagos pela população e dos  subsídios dados pelo governo, em dez anos, não houve melhorias significativas no sistema.

A quantidade de lares atendidos pelos sistemas de água e esgoto manteve-se quase a mesma, entretanto, o lucro das empresas é muito grande e o dinheiro viaja para fora do país, já que as companhias que controlam a água são estrangeiras.

"O comércio da água é uma tendência perigosa no tratamento da água como uma mercadoria ...”.

Segundo a autora, a água não pode ser um bem negociável, serviço ou investimento em qualquer tratado entre governos e corporações, pois não há substituto para a água, sem a qual não sobreviveremos. Neste contexto, podemos incluir também a agricultura industrial: "A agricultura é de longe a maior consumidora de água no mundo - 70 a 90% - tendo em vista que a água usada para cultivar a colheita deixa a bacia hidrográfica para sempre."

Em Água Futuro Azul, a autora oferece soluções para a crise mundial da água com base em quatro princípios, com 4 capítulos cada um:

• Princípio nº1: A água é um direito humano
É o princípio que reconhece que negar acesso a água potável às pessoas significa violar um direito humano básico. A autora aponta o fato das pessoas ricas e as grandes corporações terem pleno acesso a agua enquanto que outros, geralmente pobres, não têm acesso a este recurso. O direito humano a água exige que os governos garantam o acesso a água potável limpa, bem como saneamento básico para todos.

1º Capítulo: Em Defesa do direito à água
No começo do livro Maude mostra a luta que teve ao defender o direito da humanidade pela água. Muitas nações queriam que a água fosse classificada como uma necessidade humana, mas ela insistiu em defender que a água é um direito humano, já que necessidade e direito são totalmente diferentes. A autora aborda detalhes sobre essa luta, principalmente na ONU.

2º Capítulo: A luta pela direito à água
Neste capítulo Barlow enfoca um pouco mais sobre a luta pelo direito a água e como foi vencida. 

3º Capítulo: Implementando o direito à água
Após a ONU declarar que todos temos o direito a água, a autora apresenta como os governos tem a responsabilidade de prover água para a população.

4º Capítulo: Pagando pela água para todos
Como a autora mesmo disse, a água reduz o risco de doenças, melhora o meio ambiente e ajuda famílias a aproveitar melhor a vida e as crianças os estudos, portanto, deveria haver um comprometimento dos países mais ricos em ajudarem os países mais pobres a resolver os problemas de saneamento e tratamento da água.

• Princípio nº2: A água é um patrimônio comum
Reconhece-se aqui que a água é um patrimônio comum da humanidade e que ela pertence não apenas às gerações presentes, mas também às futuras. Por conta disso, precisa ser preservada – na lei e na prática – e destinada para uso público.

5º Capítulo: Água — Propriedade pública ou mercadoria?
Temos o direito de cobrar pelo uso da água?
Até que ponto as empresas tem o direito de utilizar a água?

6º Capítulo: Foco nos serviços públicos de água
A autora fala sobre o perigo que está se tornando a privatização da água e cita uma frase: A água será a próxima indústria do petróleo da década seguinte.

7º Capítulo: A perda da propriedade pública da água devasta comunidades
Neste capítulo a autora apresenta casos reais onde a privatização da água se tornou um problema para a vida das pessoas locais.

8º Capítulo: Recuperando a propriedade pública da água
A autora nos mostra alguns governos que interviram e resgataram a propriedade sobre a água.

• Princípio nº3: A água também tem direitos
Fundamenta-se numa nova ética que coloque a água numa posição de centralidade, e que as fontes de água e bacias hidrográficas sejam protegidas.  A necessidade de tornar nossas leis humanas compatíveis com as da natureza.

9º Capítulo: O problema com a água atual
Os países, incluindo o Brasil,  não estão sabendo lidar com a água. Maude aponta os detalhes de diversas falhas. 

10º Capítulo: O controle corporativo da agricultura está extinguindo a água
A autora apresenta neste capítulo dados alarmantes sobre como a agricultura tem acabado com a água. Rios são desviados e poluídos para favorecer os lucros das corporações.

11º Capítulo: As demandas de energia tornam-se um fardo insustentável para a água
As hidroelétricas e biocombustíveis têm degradado o meio ambiente e a água. A autora nos fala sobre isso e dedica um tópico inteiro ao Brasil. 

12º Capítulo: Colocando a água como o centro das nossas vidas
Ao longo do livro Barlow mostra falhas graves de todos os países no que diz respeito ao respeito pela água, porém, neste capítulo,  Maude apresenta soluções e uma nova ética para a água.

• Princípio nº4: A água pode nos ensinar a viver juntos
Se a disputa pela água pode ser fonte de disputas e conflitos, ao mesmo tempo pode aproximar as pessoas, comunidades e nações na busca compartilhada por soluções em encontrar uma maneira melhor de viver no planeta.

A sobrevivência depende da colaboração e isto implicará numa governança mais democrática e participativa no que diz respeito a ações para a garantia da disponibilidade dos recursos hídricos.

13º Capítulo: Confrontando a tirania do 1%
Esse 1% são as pessoas mais ricas do mundo (os bilionários) que tem um poder muito grande na economia do mundo e a autora nos mostra que muitos destes não querem ajudar a humanidade na questão da água, revelando dados interessantes e soluções.

14º Capítulo: Criando uma economia justa
Neste capítulo a autora apresenta soluções para o comércio da água.

15º Capítulo: Protegendo a terra, protegendo a água
Barlow, neste capítulo, apresenta soluções práticas e muito inteligentes, mostrando o que cada um de nós pode fazer para resolver o problema da água mundial.

16º Capítulo: Um mapa para o conflito ou a paz?
Maude Barlow faz especulações a respeito do futuro da água e nos faz enxergar tal conflito.

Com relação ao Brasil, vale lembrar, que a autora dedica um tópico inteiro ao nosso país que é conhecido por  possuir uma das maiores reservas de água doce do planeta. Maude explica que existe um paradoxo na questão da água, uma vez que esta é relativamente barata, o que leva ao desperdício,  mas, ao mesmo tempo, não é um direito fundamental —  o semi-árido nordestino —  já que não existe uma quantidade mínima garantida e gratuita para saciar as necessidades básicas de uma pessoa que não possa pagar por ela. Assim, enquanto uns desperdiçam, outros não tem acesso à água.

Outra prática comum são os poços clandestinos que retiram água dos aquíferos de maneira desordenada, trazendo graves consequências como o esgotamento da água do subsolo, que deveria ser usada como reserva para períodos de escassez, contaminação e rebaixamento do solo, o que pode fazer edificações desabarem ou abrir crateras que engolem tudo ao seu redor.

Práticas agrícolas inadequadas também são um grave problema no Brasil, pois poluem as águas através dos agrotóxicos, dejetos de animais e fertilizantes, além do esgotamento das reservas subterrâneas ou dos rios pela irrigação feita de maneira incorreta.

A devastação das florestas é outro grande problema, ums vez que as florestas também têm uma parte essencial no controle do regime de chuvas. Pesquisadores da Universidade de Leeds descobriram que as correntes de ar que passam sobre grandes florestas tropicais produzem duas ou mais vezes chuva do que as que passam por regiões desmatadas. Estima-se que a quantidade de chuva na bacia amazônica cairá para cerca de 21% nos períodos de seca até 2050.

Outros estudos apontam que a falta de chuvas no sudeste brasileiro, a maior em pelo menos 70 anos, também está ligada ao desmatamento, ou seja, os ventos não estão trazendo a umidade em quantidades suficientes para produzir chuva.

Maude ainda cita as mega represas, utilizadas para gerar energia elética, como promotoras de grandes malefícios para nossa água e meio ambiente, apesar da crença popular dizer que a energia gerada pelas represas é limpa, mas isto está muito longe da verdade.

Dentre os problemas destacados pela autora, os quais ela descreve detalhadamente, pode-se citar a morte dos rios, diminuição da produção de peixes, destruição de terras cultiváveis, extermínio de animais silvestres, interrupção do fluxo de nutrientes carregados pelas águas, contribuição para o aquecimento global por meio do metano emitido pela putrefação das florestas submersas e outros.

Maude, também apresenta  em sua obra, exemplos de projetos bem sucedidos pelo mundo afora para salvar a água, projetos estes que envolvem tanto governos quanto comunidades locais ou indígenas que lutam por seus direitos fundamentais, onde a tomada de consciência e a resistência aos abusos fizeram governos e comunidades retomarem o controle de suas fontes de água.

Por outro lado, a obra revela ainda países, considerados do primeiro mundo,  que estão eliminando ou ignorando leis ambientais, contribuindo desta forma para o agravamento da questão da água, além de mostrar também a situação grave que a desigualdade e o lucro fácil na comercialização dos recursos da água promovem em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento.

A discussão sobre a proteção e o futuro da água é bem complexa e envolve não apenas questões políticas, mas também comerciais, saúde pública, direitos humanos, desmatamento, vazamentos, corrupção, cidadania, educação, conscientização, irrigação, entre outros. Maude Barlow, em seu livro Água Futuro Azul (o último livro da trilogia azul) nos dá uma perspectiva atual do que estamos vivendo e quais as principais consequências e desafios que o futuro nos reserva se não aprendermos, urgentemente,  a respeitar e a proteger o que nos dá vida.

Assim, não há outra alternativa que não seja reduzir a nossa pegada Hídrica (é definida como o volume total de água doce que é utilizado para produzir os bens e serviços consumidos pelo indivíduo) e juntos cuidarmos melhor de nossas fontes de água, pois a crise global da água só será solucionada se a sociedade desenvolver uma cultura para gerenciar e zelá-la como um bem comum fundamental da vida, o qual deve ser entendido como um direito a ser partilhado entre todos,  um direito, sem discriminações ou exclusões, ou seja, um direito humano, um bem público, uma dádiva da natureza para a humanidade.


Sobre a autora
Maude Victoria Barlow, nascida a 24 de maio de 1947, é uma escritora canadense, autora de 16 livros, sendo considerada como a maior autoridade em temas relativos à água potável no mundo. É presidente nacional do Conselho de Canadenses e do conselho da Food & Water Watch com sede em Washington. Também é membro do conselho do Fórum Internacional sobre a Globalização de São Francisco e conselheira do Conselho do Futuro Mundial de Hamburgo.

Em 2008 e 2009, foi assessora sênior de assuntos relacionados à água para o 63° presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas e liderou a campanha para ter a água reconhecida como direito humano pela ONU.

Barlow foi homenageada com 11 doutorados honorários, assim como diversos prêmios, incluindo o Prêmio Earth Care de 2011, a mais elevada honraria internacional concedida pelo Sierra Club (EUA) e, em 2005, o Right Livelihood Award, conhecido como o Prêmio Nobel Alternativo.


Água Futuro Azul — Como proteger a água potável para o futuro das pessoas e do planeta para sempre
Título Original: Blue Future — Protecting water for people and the planet forever
Autora: Maude Barlow
Tradutor: Jorge Ritter
Editora: M.Books
Preço: De R$ 48,51,00 até R$ 79,00
Livros Pra Ler e Reler


Tags:
Água Futuro Azulágua potável, bem público, direito humano, serviço público, patrimônio, futuro, pessoas, planeta.