O Lado Bom da Vida – Matthew Quick

O Lado Bom da Vida narra a história de Pat Peoples, um ex-professor de história na casa dos 30 anos, que retorna ao lar, após passar um período num “lugar ruim”  — o nome que ele dá para “Instituição Psiquiátrica”. 
 
Tentando recompor o quebra-cabeças de sua memória, agora repleta de lapsos, Pat passa a seguir uma nova filosofia, que inclui entrar em forma, ser gentil e está determinado a reorganizar as coisas e reconquistar sua ex-mulher, pois acredita em finais felizes e no lado bom da vida. Tendo a seu lado o excêntrico psiquiatra Dr. Patel e Tiffany, a irmã viúva de seu melhor amigo, Pat descobrirá que nem todos os finais são felizes, mas que sempre vale a pena tentar mais uma vez.
 
Os detalhes por trás do distúrbio mental de Pat serão uma incógnita para o leitor durante a maior parte da leitura, pois o protagonista sabe pouco, ou quase nada, sobre o que aconteceu a ele e aos que o rodeavam, nos últimos anos. Tentando recompor o quebra-cabeças de sua memória, agora repleta de lapsos, ele ainda precisa enfrentar uma realidade que não parece muito promissora.

Com seu pai se recusando a falar com ele, sua esposa negando-se a aceitar revê-lo e seus amigos evitando comentar o que aconteceu antes de sua internação. Ele não se lembra dos grandes acontecimentos de sua cidade, do  mundo ou por que estava no “lugar ruim”, recuperando-se de quê e por quê?
 
Pat não parece um adulto de trinta anos, seus atos e diálogos destacam claramente sua anormalidade. O relacionamento de Pat com os pais, com quem passa a viver após sair da clínica, é de extremos. Sua mãe é uma mulher que não tem limites para amar, ela tenta a todo o momento criar uma atmosfera segura para o filho, enquanto o pai, um homem bruto, que possui uma personalidade confusa e obscura, algumas vezes se abre com o filho e conversa, em outras o ignora totalmente.
 
Percebe-se que a relação com o futebol americano é determinante na maneira como pai age e interage com a família, e é aí que o autor insere e justifica o aspecto do esporte no livro. Vale ressaltar que o amor de Pat, de seu pai, de seu irmão, de seus amigos e de seu médico pelo futebol Americano, no caso Eagles, se torna uma das partes hilariantes, quase contagiante, quando fazem a dancinha do time.
 
É importante frisar também que, muito embora,  Ronnie, seu amigo, e Jake, seu irmão, se esforcem para que ele se sinta à vontade novamente, Pat sente que seus pais, irmão e amigos só dizem meias verdades e acredita que o único que realmente o auxilia é Cliff Patel, seu terapeuta que compartilha com Pat o otimismo e o amor pelos Eagles.
 
Em sua sede de aprender tudo o que pudesse fazê-lo reatar com a sua ex-mulher Nikki, a grande obsessão de sua vida, Pat está determinado a reorganizar as coisas e reconquistar sua mulher, porque acredita em finais felizes e no lado bom da vida.
 
Nikki ensina literatura inglesa, assim Pat começa a ler os livros que ela passa para seus alunos e torna-se um viciado em exercícios físicos, por que Nikki gosta de homens sarados. O fato é que Pat não consegue ter nenhum contato com ela e ninguém está disposto a ajudá-lo e, esta altura, o leitor fica assustado com o rumo que pode tomar sua vida e afinal qual seria o segredo por trás de sua doença e o “porquê” da partida de Nikki.
 
Enquanto tenta se readaptar a uma vida “normal”, o ex-professor precisa lidar com a mãe gentil, mas muito protetora, com o pai que o ignora solenemente, com um irmão amoroso e com um melhor amigo, mas ligeiramente culpado. E todos parecem detestar sua esposa.
 
E é justamente esse amigo, Ronnie, que o recebe para jantar junto com filha pequena, a esposa e sua irmã igualmente problemática, Tiffany. E é esse fato, que serve de base para o desenvolvimento da história, já que passamos a acompanhar não só Pat em sua busca apaixonada pela reconciliação com Nikki, mas também sua amizade um tanto esquisita com Tiffany e suas consultas com o novo terapeuta, Dr. Cliff Patel – pré-requisito para manter-se fora do “lugar ruim”.
 
À medida que seu passado, aos poucos,  ressurge em sua memória, Pat começa a entender que "é melhor ser gentil que ter razão" e faz dessa convicção sua meta.
 
Tiffany, a irmã viúva de seu melhor amigo, perdeu o marido recentemente e, assim como Pat, visitou uma instituição psiquiátrica e, como tal,  está passando por uma fase difícil… Assim, a dinâmica entre Pat e Tiffany é responsável pelas cenas e diálogos mais engraçados do livro.
 
Tendo a seu lado o excêntrico, mas competente, psiquiatra Dr. Patel e Tiffany, Pat descobrirá que nem todos os finais são felizes, mas que sempre vale a pena tentar mais uma vez. Um livro comovente sobre um homem que acredita na felicidade, no amor e na esperança.
 
A narrativa, em primeira pessoa, mostra Pat com seus pensamentos e ações ingênuas depois da temporada na clínica, e isso transparece ao longo de toda a narração.  O fato é de que ele terá que aprender a  lidar com seu passado, presente, suas perdas e ganhos, para poder viver o lado bom da vida.
 
Não é um livro repleto de personagens complexos, tanto que o livro é narrado pelo próprio Pat, de uma forma talvez idealizada — como  Pat os enxerga, seja pela personalidade mais “fechada” do pai, pelo grande coração da mãe, por jake o irmão amoroso tentando compensar sua culpa e sua ausência,  por Cliff o psiquiatra fora dos padrões comuns, mas que realmente faz a diferença e, pela loucura de Tiffany, que aparece quando Pat não a quer por perto e desaparece quando ele quer falar com ela. É uma mulher misteriosa, que remexe a vida de Pat e tenta livrá-lo das crises.
 
Por sua vez,  o autor consegue transmitir os conflitos e sofrimento de pessoas com distúrbios/patologias psiquiátricas, como por exemplo, a mágoa do protagonista por não ter a confiança das pessoas, a dificuldade de autocontrole e a confusão causada por ser diferente dos outros. A doença mental do personagem o confina dentro de si mesmo e a um isolamento natural. 
 
“O Lado Bom da Vida” é um livro de contrastes, onde o autor mescla  o drama e o cômico e o personagem principal, nos expõe sua vida de uma forma explícita, nua, sem maquiagem ou roupagem, convidando-nos a refletir que mesmo com todos os seus problemas psicológicos, Pat consegue fazer-nos  acreditar que há, de fato, um lado bom em tudo na vida.
 
O Lado Bom da Vida
Author: Matthew Quick
Editora: Intrínseca, 2012
Tradução: Alexandre Raposo
Preço: De R$ 19,90 a R$ 26,90
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Tags:
O Lado Bom da Vida, comovente, bem-humorada, história, professor,  lar, lugar, ruim, vida, filosofia, gentil, ex-mulher.