Chapeuzinho Vermelho, Lobo Mau e a Vovó

Chapeuzinho Vermelho é um conto de fadas clássico, de origem europeia do século  XIV, cujo nome se origina da protagonista que recebeu esse apelido porque usava sempre um capuz de veludo vermelho que sua avó lhe deu de presente.

O conto sofreu inúmeras adaptações, mudanças e releituras mais modernas, tornando-se parte da cultura popular mundial e uma das fábulas mais conhecidas de todos os tempos.

O fato é que toda a história de Chapeuzinho Vermelho caminha em prol da ameaça da protagonista ser devorada pelo lobo e, também, aborda alguns problemas próprios dos conflitos internos que são aflorados quando a menina sai do seu lar e fica exposta aos perigos da floresta, sem a proteção dos pais, tornando-se mais sensível, frágil  e, portanto, mais vulnerável à sedução do lobo, cuja meta  é alimentar-se para sobreviver.

Assim, a história abaixo de Chapeuzinho Vermelho, possivelmente, é a que foi repassada ao leitor por seus pais, tios, avós e, até mesmo pela primeira professora, lembra?

Era uma vez... uma linda menina que desde pequenina gostava de usar capas com um chapeuzinho bem vermelho. Um dia sua vovó decidiu presenteá-la com uma bela capa vermelha com capuz  e, daquele dia em diante, a menina não quis mais saber de vestir outra roupa, passando a ser chamada de Chapeuzinho Vermelho. 

Ela era uma boa menina, alegre e esperta que vivia com sua mãe numa pequena vila perto da floresta. Um dia, a pedido de sua mãe, a menina vai levar os docinhos a sua vovozinha que está doente e mora sozinha no final de um caminho na floresta. 

A mãe recomenda a Chapeuzinho que tome muito cuidado. Não converse com estranhos e vá direitinho, sem desviar do caminho certo, pois há muitos perigos na floresta.

Ainda muito inocente e cheia de imaginação, a menina não segue as recomendações da mãe e, ao atravessar a floresta,  fica encantada e atraída pela beleza do mundo à sua volta. Colhendo algumas flores e correndo atrás das borboletas, acaba distraindo-se e toma o caminho mais curto e também o mais perigoso aonde é vista por um lobo, conhecido como  Lobo Mau.

Era tudo o que o Lobo Mau precisava! Ardiloso, malicioso e consciente da inocência da menina indefesa,  coloca-se no caminho de Chapeuzinho e provoca um diálogo amigável que a deixa confiante a ponto de ensinar-lhe o caminho mais rápido até a vovozinha.

O gentil Lobo Mau sugere que a menina, por segurança, volte e tome o caminho mais longo. Assim, Chapeuzinho segue o conselho do lobo e, este, na ânsia de devorar a menina, segue o caminho mais curto e chega à casa da vovó antes de Chapeuzinho. Fingindo ser a netinha, o lobo,  consegue enganar a pobre velhinha, engolindo-a logo em seguida.

Ao chegar a seu destino, Chapeuzinho encontra  sua vovó, muito estranha,  deitada na cama e é convidada por ela, a deitar-se a seu lado,  iniciando-se assim o famoso diálogo de Chapeuzinho Vermelho para com a vovó:

• Porque esses olhos tão grandes? E ela responde:
— Ó minha querida, são para te enxergar melhor.


• Porque essas orelhas tão grandes?
— São para te ouvir melhor.

• E porque essa boca tão grande?
— É para te comer!!! 

Entretanto, para sorte de Chapeuzinho e de sua vovozinha, passava por ali um  caçador que abriu a barriga do lobo e resgatou com vida a menina e a avó. E Chapeuzinho Vermelho prometeu a si mesma nunca mais esquecer os conselhos da mamãe. 

O lobo? Bem, como castigo, foram colocadas pedras dentro da sua barriga  e ao tentar correr, não consegue devido ao peso e cai no chão morto!
Fim!

Apesar desta ser considerada a versão com que a maioria de nós está familiarizada, na verdade, em sua origem, eram abordados temas considerados cruéis ou imorais  e  eram utilizados de uma forma muito rústica, eficaz e amedrontadora, para exemplificar e advertir as crianças na passagem da  infância para a vida adulta, portanto, não tinham a leveza e o encantamento dos contos de fadas produzidos para as crianças de hoje, tanto que o  lenhador foi uma invenção posterior, para abrandar a história.

Estudiosos da Literatura comentam que existia uma série de Fairy Tales criada nos séculos XVI-XVII na Europa, para o entretenimento noturno dos adultos e eram contadas pelos camponeses em volta do fogo, em noites de inverno europeu e nos salões parisiences.

Nesse contexto, a história da avó, compilada no século XIX, falava de uma menina que sem querer, comeu a carne e bebeu o sangue da sua avó, ficou nua a pedido do lobo, mas, ao final, deixa-o a ver navios... Corajosa e perspicaz  engana o Lobo e foge para sua casa.

O fato é que entre outros autores, Charles Perrault, escritor e poeta francês, foi quem  estabeleceu bases para um novo gênero literário, o Conto de Fadas, que além de ter sido o primeiro a dar acabamento literário a esse tipo de literatura, lhe conferiu o título de Pai da Literatura Infantil.

Suas histórias mais conhecidas, além de Chapeuzinho Vermelho, são A Bela Adormecida, O Gato de Botas, Cinderela, Barba Azul, As Fadas e etc. Perrault, incialmente, publicou Chapeuzinho Vermelho no final do século XVII, para a corte do rei Louis XIV, que pretendia levar uma moral, especialmente, às moças bonitas, finas e educadas, para que não fossem enganadas em ouvir estranhos, mesmo os que fingiam ser gentis, representados pelo lobo.

Na história de Chapeuzinho Vermelho de Perrault,  o final da história é assombroso e trágico —  o lobo come as duas. Parece que ele tentou punir toda e qualquer criança que desobedecesse seus pais, sem direito a outra chance, tanto que o autor explica a moral da história com um pequeno poema:  Meninas bonitinhas não devem conversar com quem não conhecem, se o fazem , não é de se admirar que sejam devoradas.

Já a história contada pelos irmãos Grimm — dois alemães que também se dedicaram ao registro de várias fábulas infantis por sua temática mágica e maravilhosa, juntando assim o universo popular e o infantil — apresenta uma versão diferente,  mais branda, onde os caçadores salvam chapeuzinho e a avó e punem o lobo, mostrando assim que o bem sempre vence o mal e é dado à menina uma oportunidade de rever seus atos e não repetir o erro.

Isso mostra que os autores ao abordarem  valores morais como gentileza, paciência, obediência e respeito, preocupavam-se também com uma recompensa ou, em caso contrário, uma punição, assim, quem transgredia as regras se exponha ao perigo e teria que aprender a lidar com um inimigo, muitas vezes forte e tentador, que neste caso era representado pelo lobo.

Chapeuzinho Vermelho é uma estória que faz parte dos contos e fábulas populares da época das histórias de fadas, que a partir das narrativas de Perrault e dos irmãos Grimm  possibilitaram outras versões com novas leituras, entretanto,  vale ressaltar a versão de Perrault, quando escreve: ...Eu chamo lobo, para todos os lobos que não são do mesmo tipo do lobo do conto, há um tipo com uma disposição receptiva — sem rosnado, sem ódio, sem raiva, mas dócil, prestativo e gentil, seguindo as empregadas jovens nas ruas, até mesmo em suas casas. Ai de quem não sabe que esses lobos gentis são de todas as criaturas como as mais perigosas!

É só susbtituir empregadas jovens por crianças ou adolescentes no mundo de hoje, concluiremos que o mundo mudou, mas o homem ainda continua agindo como um lobo que não é um lobo e sim um homem disfarçado de lobo homem ainda desconhecido pelos chapeuzinhos da vida.

Na verdade, o universo que cerca o ser humano, está repleto de “Chapeuzinhos Vermelhos” que ao se deslumbrarem com a beleza aparente sugerida pelos “Lobos Maus” da vida, não veem o perigo e nem conseguem fugir do poder de sedução de “um lobo” ardiloso e manipulador, que como tal, não devora sua presa logo de cara, primeiro é gentil, depois seduz, para então consumar a única coisa que ele mais sabe fazer — Devorar!

Chapeuzinho Vermelho, Lobo Mau e a Vovó.
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