A Escolha de Sofia — William Clark Styron

A escolha de Sofia é ambientada no Brooklyn, em 1947, e é narrada por Stingo — um aspirante a escritor sulista — que chega a uma pensão e conhece um casal que se tornam seus amigos.

São eles Nathan Landau — um jovem carismático judeu, mas de temperamento instável, e sua esposa, Sophie Zawistowska — uma imigrante polonesa que sobreviveu aos horrores do campo de concentração em Auschwitz.

O casamento de Nathan e Sofia alterna idílio e inferno na mesma facilidade impressionante com que o marido cambia de temperamento. Sophie durante sua relação com Nathan, nunca lhe fala da sua vivência em Auschwitz e passa a viver, então, entre o amor inconstante de Nathan, que lhe devolve a vontade de viver, e a devoção do amigo Stingo.

É explícita a incompreensão de Stingo quando se vê atraído por Nathan e ainda mais explícita a descrição de uma cena de sexo entre Sofia e Stingo, quando afinal ela cede aos encantos do sulista, tem-se a impressão de que é muito mais por um sentimento materno e por uma dívida pelo amor que este nutre por ela.

Quando Sofia se instalou no Brooklyn, estava decidida a esquecer o inferno do campo de concentração e recomeçar a vida como se nada tivesse acontecido. No entanto, as lembranças continuam a lhe atormentar

Sofia tinha sido capturada por nazistas porque tentara contrabandear uns quilos de presunto, que levaria para a mãe moribunda. A polonesa vive num contundente sentimento de culpa, porque o pai era antissemita e porque a mãe morreu sem que recebesse a tão desejada carne.


Quando Sofia é capturada está com os dois filhos, Jen e Eva e pelo fato de ser polonesa é forçada por um soldado nazista a escolher um dos dois filhos para morrer— um seguirá para a câmara de gás e o outro será poupado.

Do ponto de vista prático, a escolha não teria importância nenhuma, apenas prolongaria a existência, pois todos que estavam ali tinham consciência que morreriam cedo ou tarde — era o que todos aqueles judeus e poloneses tinham em mente naquela época. O fato é que se Sofia não escolhesse, ambos seriam levados imediatamente para a câmara.

Escolhe salvar o menino, que é mais forte e tem mais chances de sobreviver, porém nunca mais se tem notícia dele.

Mas a escolha de Sofia vai mais além disso, tem que viver com o fardo de não poder ter tudo o que deseja, jamais, e mais uma vez tem de escolher entre o amor por Nathan e a atração por Stingo.

Tem de optar pela crença em um Nathan que pode ser curado de sua esquizofrenia e do uso abusivo de drogas ou pela lucidez de um mundo que não é um conto de fadas.

Nesse meio tempo, não há como acreditar em Deus e Sofia sente que a única fuga que lhe é permitida vem por meio do sexo. Mas Sofia sabe que não conseguirá descanso, porque está irremediavelmente marcada pelos traumas do campo de concentração, pela privação que passou durante anos e pelas doenças que quase a mataram.

Stingo não tem a menor idéia dos segredos que Sofia esconde, nem da insanidade de Nathan e ambos vão confiando seus segredos mais obscuros, e dividindo angústias e sonhos com o novo amigo. Há uma ambiguidade atroz nas atitudes do casal (especialmente Nathan), o que vai trazendo à tona boa parte do sofrimento de ambos.

Enquanto Stingo divide seu tempo entre escrever um livro e ouvir as confidências de Sofia, aos poucos, descobrirá as raízes da instabilidade do casal, mas tal achado não virá desprovido de fortes e nem sempre agradáveis emoções...Sofia atormentada com as lembranças da decisão que tomou acaba se matando.

A Escolha de Sofia é um retrato da tragédia humana e uma incursão aos meandros psicológicos daqueles que sobreviveram aos campos de concentração nazistas da II Guerra Mundial. Fantasmas assombram os personagens a cada instante, e mesmo aqueles que tentaram escapar dos rastros do passado, eles permanecem ali, dilacerando toda a possibilidade de felicidade – e muitas vezes determinando que caminho seguir.
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A Escolha de Sofia — Sophie’s Choice
Escritor:
William Clark Styron
Editora: Record

Tradução: Vera Neves Pedroso
Preço: De R$12,00 a R$ 20,00
http://livrospralerereler.blogspot.com

A Menina Que Roubava Livros — Markus Zusak

" A Menina que Roubava Livros", é um romance narrado por um narrador incomum — A Morte.
A história aborda os caminhos da Morte e de Liesel Meminger que se cruzam em três ocasiões entre 1939 e 1943:
→ na morte de seu irmão menor, quando estava para ser adotada;
→ na morte de um piloto aéreo das forças inimigas, na presença de seu melhor amigo, Rudy;
→ na morte de seus pais, quando a rua em que moravam— Himmel, Munique — fora completamente destruída pelos bombardeios da guerra.

A história se passa na Alemanha nazista e a personagem principal é Liesel, uma menina pobre de 10 anos, sobrevivente da guerra, que mora em uma cidadezinha alemã em meio ao medo e à pobreza trazida pela guerra. Assim, fascinada pela garota, a Morte, decide narrar sua história, ao se apropriar involuntariamente de seu diário.

Com a perseguição do pai comunista pelo regime de Hitler, Liesel é deixada pela mãe com a família de Hans e Rosa Hubermann, numa pequena cidade, Moiching, próxima a Munique, depois de ver seu irmão morrer no colo de sua mãe durante a viagem de mudança para a nova família.

Ao entrar na nova casa, trazia escondido na mala um livro, “O manual do coveiro”, adquirido por Liesel, num momento de distração do coveiro que enterrara seu irmão—Werner— o deixara cair na neve. Foi o primeiro dos vários livros que Liesel roubaria ao longo dos quatro anos seguintes.

Liesel não podia sequer lê-lo — ela nunca tinha sido educada corretamente, e não sabia ler — mas o livro significava, enquanto objeto, uma ligação aos acontecimentos e sentimentos presentes na morte de Werner.

Liesel cria um forte laço com o novo pai, um acordeonista. Com ele aprendeu a ler, e descobre a incrível força das palavras. Hans torna-se seu melhor amigo e nas noites em que ela acordava em meio aos pesadelos ele lia e tocava acordeão, contando-lhe histórias até a madrugada.
Esses eram os momentos mais felizes de Liesel. Hans ao perceber sua dedicação lhe presenteia dois livros no Natal — dessa vez os livros nao foram roubados!

Liesel também compartilhava um segredo com seu pai adotivo, este escondia no porão um judeu, Max Vanderburg, filho de um amigo que o salvara na primeira guerra. Com Max, Liesel desenvolve uma relação de amizade muito forte, que além de contribuir com dois livros para a coleção de Liesel, fez toda uma diferença na vida da “roubadora” de livros.

Entra em cena Rudy Steiner — que se tornaria o grande amor de sua vida — que a acompanhará em seus roubos e eventuais aventuras. Liesel procura viver uma infância feliz, jogando futebol com Rudy e seus amigos, mas a insegurança trazida pela perseguição a judeus e opositores ao regime, e o medo trazido pela guerra que iminentemente chegaria à sua pequena comunidade sempre a alcançam.

O segundo livro — O Dar de Ombros — Liesel o roubou numa fogueira na qual o III Reich queimara todos os livros e artigos considerados subversivos. Este livro passou a fazer parte de sua coleção, agora de quatro livros.

Os outos livros foram roubados ao longo dos quatro anos seguintes. E foram esses livros que nortearam a vida de Liesel naquele tempo. O gosto de roubar livros era como se fosse um refúgio, um recurso de companheirismo e sobrevivência, um instrumento do solidário. No meio de uma época onde as palavras foram usadas para justificar acontecimentos terríveis e inspirar nacionalismo e ódio, Liesel usou as palavras para unir, capacitar e compreender sua própria existência.

Nesse meio a guerra avançava e cada vez mais complicava a situação econômica e o pai de Liesel não se havia filiado ao partido nazista, sendo-lhe mais difícil arrumar trabalho. Liezel ajudava sua mãe de criação a buscar e levar as roupas que ela lavava para as famílias mais abastadas, normalmente em companhia de Rudy.

Como consequência os clientes de Rosa começaram a dispensar-lhe o serviço, como por exemplo a mulher do prefeito, Ilsa, que deu um livro de presente a Liesel. Inicialmente ela o aceitou, mas depois o devolveu dizendo que não precisava de suas esmolas. Alguns dias depois retornou acompanhada de Rudy, entrou furtivamente pela janela e o roubou. Assim, sempre que ela se sentia angustiada com as situações difíceis do dia-a-dia ela voltava à biblioteca e levava outro livro, embora a Srª Ilsa sempre soubesse.

Aos poucos, o ler para salvar a si própria se transforma em ler para salvar aos outros, e em escrever para salvar a todos. A paixão pelos livros e pelas palavras, foi exatamente isso que lhe salvou a vida. Numa noite em que houve um ataque, sem aviso prévio, a rua foi completamente destruída e seus pais, seus vizinhos e Rudy morreram dormindo, enquanto ela estava escrevendo no porão esta história.

Quando os bombeiros chegaram encontraram uma menina de quatorze anos viva entre os escombros. A Morte que recolhia as almas por ali ficou surpresa. Ela viu a menina agarrada ao seu livro, que caíu de suas mão ao perceber que todas as pessoas que amava estavam mortas. A Morte sorrateiramente agarrou aquele exemplar e o mostrou a Liesel, muitos anos mais tarde, quando a foi buscar junto a seu marido, seus filhos e netos em Sidney, na Austrália.

"A Menina Que Roubava Livros" é um livro emocionante, que nos transporta entre a inocência da infância de uma criança e a realidade brutal e horrorosa de uma guerra. Mesmo tratando de extermínios, tragédias, destruição, guerra, ódio, abandono, o livro nos mostra que a generosidade humana pode sobreviver nas condições mais adversas.
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A Menina que Roubava Livros — The Book Thief, no original.
Escritor:
Markus Zusak
Editora: Intrínseca — Rio de Janeiro – 499 pp
Tradução: Vera Ribeiro.
Preço: De R$ 28,00 até R$ 40,00